10 razões para fazer um GAP YEAR
- pmdscortez
- 26 de abr. de 2017
- 9 min de leitura
A primeira vez que me cruzei com este conceito foi durante o meu “Erasmus” na Coreia do Sul, onde quase todos os alunos de intercâmbio já tinham feito (ou estavam para fazer) um Gap Year. A forma entusiasmada como falavam do assunto deixou-me curioso e com vontade de saber mais.
Mas afinal o que é um Gap Year?
Na verdade, descrever o que é um Gap Year num parágrafo é impossível, mas aqui fica a ideia:
Tal como o nome indica, trata-se de uma pausa na vida rotineira de uma pessoa, durando normalmente 12 meses ou um ano lectivo. O conceito mais parecido em português seria “Ano Sabático”, uma vez que o objetivo deste ano, para além de refazer o teu habitual dia-a-dia, é também de desenvolvimento intelectual e autodescoberta (sim, essa palavra assustadora). Aqui ficam 10 razões para fazeres um Gap Year:
#1. Não, não precisas de dinheiro
Deixa-me já quebrar um mito preestabelecido, o de “Ah eu até gostava, mas não tenho dinheiro”. Isto não é mais do que uma desculpa moral para afastar aquele bichinho no fundo da tua cabeça que te vai estar sempre a chatear com a pergunta “E se eu arriscasse?”.
Se há um investimento que tens de fazer é só o voo de ida (e mesmo isso é evitável se fores à boleia até ao teu destino), por isso no final é tudo uma questão de vontade. Se não tens dinheiro para começar, dedica os teus primeiros meses do Gap Year a fazer um trabalho que te permita poupar algum dinheiro – existem inúmeras possibilidades pelo mundo fora de teres um trabalho simples que te permite poupar. No meu caso, trabalhei os primeiros 2/3 meses como condutor de tuk tuk (aqueles “triciclos” barulhentos) em Lisboa, algo que adorei e me permitiu financiar praticamente todo o resto do meu Gap Year.

Receberes dinheiro por mostrares a cidade onde nasceste – nada mau para um trabalho
Queres começar logo fora de Portugal? Sem problema: babysitting em França, funcionário num parque temático na Áustria, apanha da fruta na Dinamarca e empregado de mesa na Austrália são tudo exemplos de trabalhos que te permitem cobrir os custos de vida e ainda poupar para o resto do teu ano.
Um bilhete de metro (ida e volta) em Lisboa custa o mesmo que um autocarro de 4h na Guatemala
Uma noite de copos no Urban dá para viveres uma semana (com tudo incluído) num bungalow em cima do mar Caribe da Nicarágua
O preço do novo iPhone paga-te uma viagem (com voos incluídos) por 3 semanas no Sudoeste Asiático.
A escolha é tua 😉
#2. “És do tamanho do mundo que conheces”
O slogan da organização Ano Sabático (vale a pena veres as propostas que têm para o teu Gap Year) tornou-se um dogma para mim.
Tenho imenso orgulho em Portugal, o país em que nasci: as pessoas, a gastronomia, o tempo… pela quantidade de vezes que faço publicidade a este país enquanto viajo já devia ter recebido uma comissão do Turismo de Portugal.
No entanto, nunca me esqueço que Portugal é apenas um (e pequeno) país em 195 espalhados por todo o planeta e num mundo cada vez mais global e de fácil difusão de informação é cada vez mais importante apercebermo-nos que mais que um português, somos um cidadão do mundo.
Países como Myanmar, Guatemala e especialmente Honduras, bastava pesquisar um bocado na internet para ver imensos avisos de como eram perigosos e desaconselhados para o turista/viajante, mas sempre quis ver pelos meus próprios olhos se isto era uma realidade ou apenas má propaganda internacional. E adivinha…nunca vou esquecer os mergulhos que fiz nas Honduras, os chickenbuses apanhados na Guatemala e o Myanmar ainda é o meu país favorito de todas as minha viagens.
Da mesma forma, sempre fui questionado de porquê ir 5 meses para a Colômbia ensinar inglês num dos bairros mais pobres da capital, quando em Portugal também existem pessoas que precisam da minha ajuda. Para mim nunca se tratou de estar ajudar uma pessoa da mesma nacionalidade que eu ou um estrangeiro, mas sim do impacto que podia ter nas pessoas que estava a ajudar… e as condições com que me deparei em Bogotá são no mínimo bem mais complicadas do que em Portugal. No final, quero deixar este mundo, como um todo, um lugar melhor do que o que encontrei (e hoje em dia isso é uma grande batalha que merece ser lutada).

O abraço caloroso de alguns alunos no meu último dia como “Profé”
#3. Aprende novas skills
Se achas que o conhecimento que te ensinam na universidade/escola é importante, mas não é tudo esta vai ser uma das tuas maiores motivações para fazeres um Gap Year. Parte importante do nosso crescimento profissional e pessoal passa pelo desenvolvimento de soft skills (aqueles traços de personalidade e habilidades/capacidades que um dia mais tarde vais agradecer ter fortalecido).
Tirar um curso de mergulho, aprender uma nova língua, saber como falar em público, tirar um curso de culinária tailandesa, aprender linguagem gestual, saber como liderar uma equipa de voluntários, estudar fotografia, tocar um novo instrumento… as possibilidades são ilimitadas e a decisão do que vais saber mais no final deste ano é inteiramente TUA.
#4. Descobre a tua paixão
Acabaste o curso e não sabes em que te especializar? Saíste da escola, mas ainda não sabes que curso escolher? Muitos de nós passam por estas dúvidas, afinal nem sempre é fácil tomar uma decisão que influencia o nosso futuro com base em disciplinas generalistas que tiveste nos teus últimos anos. Ou mesmo se o teu futuro não passa por continuar a estudar, que caminho escolher a seguir?
Claro que não é por fazeres um Gap Year que vais descobrir todas as respostas para as tuas perguntas existenciais nem necessariamente vais descobrir o que te faz mover e consequentemente o teu trabalho de sonho…mas é sem dúvida uma boa ajuda. Afinal que melhor forma de descobrir o que te faz sentir mais realizado do que um ano em que tens liberdade de explorar qualquer oportunidade sem restrições (a não ser as que impões em ti próprio). Estando constantemente fora da tua zona de conforto, vão surgir desafios que te vão ajudar a perceber melhor o que realmente “mexe” contigo e vais, de certeza, cruzar-te com pessoas que te fazem conhecer a ti próprio cada vez melhor.

Stef, Welli, Ilaria e Cost: a minha “Colombian Family” (Falta apenas Anouck o 6º membro desta família)
No meu caso, parte do meu Gap Year dediquei a fazer uma experiência que em nada tinha haver com o meu curso académico, o que poderia parecer insignificante para o meu futuro. Na verdade, foram os interesses e as aprendizagens que surgiram desta experiência que me ajudaram a perceber que passos deveria tomar daí para a frente de forma a ter um trabalho que me dê gosto levantar todos os dias.
Autodescoberta é uma palavra que parece assustar muitas pessoas nestes dias, mas olhando para trás, se tivesse de resumir o meu Gap Year numa palavra…seria esta mesma.
#5. Vais para o Suriname? Eu arranjo-te casa!
Vais-te começar a aperceber rapidamente das vantagens de te tornares um verdadeiro cidadão do mundo. De repente, o que antes era apenas um nome de um país qualquer estranho, traz-te agora uma memória: a russa que fez um voluntariado contigo, o islandês que fez uma “maratona” de autocarro ao teu lado, o japonês que te ofereceu casa ou mesmo a australiana que te fez perder um avião. A verdade é que quando dás por ti, estás a oferecer uma casa (que nem é tua) em cada canto do mundo, já que estas experiências deixaram amigos para a vida.
Até que um dia, é a tua vez de viajar pelo mundo ficando em casa de todos os teus amigos.
#6. Acabou-se o gás? Não há problema, faz-se uma fogueira!
Conhecido “mundialmente” pela sua arte do desenrascanço, o português já é, à partida, uma pessoa naturalmente capaz de se adaptar a adversidades.
No entanto, se calhar não estamos habituados a lidar com desafios como: o que fazer numa viagem de autocarro de mais de 30 horas, como explicar a crianças de 9 anos que vivem no limiar da pobreza que vale a pena estarem sentadas numa sala de aula para aprenderem inglês ou mesmo como enfrentar o receio de viajar sozinho em países rotulados de “a não visitar”.
Quando voltares da tua experiência intensa de Gap Year, os problemas que antes pareciam um constante obstáculo no teu dia-a-dia passam a ser relativos: o que é esperar pelo autocarro 20 min atrasado da Carris quando chegavas constantemente atrasado ao teu trabalho na Colômbia porque o autocarro simplesmente não aparecia; o café onde estás não tem wi-fi? estiveste 3 semanas numa ilha do Cambodja sem eletricidade, sobrevives sem isso; acabou-se o gás? Não há problema, aprendestes a fazer uma fogueira quando subiste ao topo de um vulcão na Guatemala.

Com uma vista assim ficou mais fácil começar uma fogueira
#7. De que é que estás à espera?
Outro obstáculo comum: “Este ano não dá, fica para o próximo”.
A meu ver existem 3 alturas “ideais” para fazer um gap year: depois de acabar o secundário, depois de acabar a universidade ou entre mudança de trabalhos. E claro que quanto mais cedo melhor, já que pode não ser assim tão boa ideia deixares os teus filhos ou dizeres à tua alma gémea que vais sair de casa um ano.
Aproveita agora que não tens nada a perder e tudo para a arriscar porque o pior que te pode acontecer é de aqui a 3-5 anos estares a perguntar-te como teria sido o teu Gap Year se tivesses aceitado o desafio. E o melhor que te pode acontecer? Um ano cheio de experiências inesquecíveis.
#8. Nunca vais ficar sem tema de conversa
Todos nós passamos por aquelas situações em que parece nenhum assunto nos surge como uma boa ideia para começar uma conversa. Quando uma pessoa que conhecemos de vista entra no elevador, quando jantas com os pais da tua nova namorada, quando almoças com o teu chefe ou mesmo quando conheces uma pessoa que parece que já fez tudo o que é humanamente possível neste mundo.
As histórias do teu Gap Year vão ser um genial “quebra-gelo” o que te ajuda a aproximar muito mais facilmente das pessoas com que te cruzas. E aquela vez em que desceste um vulcão numa tábua de madeira? Ou quando fizeste um pub crawl por um rio no meio do Laos? E aquela história do retiro budista num mosteiro nas montanhas da Coreia do Sul?
Seja qual for a história ou aventura que tenhas para partilhar, vais sempre contá-la com um sorriso enorme da cara, daqueles de quem olha para trás na vida com orgulho. 🙂
#9. Melhora o teu currículo
“Mas Pedro, quem é que vai querer um tipo que esteve parado um ano inteiro?”
Esta era uma das maiores preocupações da minha família. Afinal depois de ter terminado uma licenciatura, o “percurso normal” seria tirar um mestrado ou mesmo começar a trabalhar. Para a minha família, aos olhos de um futuro empregador eu seria “um gajo que não fez nada um ano”, enquanto que a meu ver, eu seria “um tipo interessante com uma história para contar”.
Põe-te na posição de um recrutador ao entrevistar 2 candidatos com um percurso bem diferente:
Candidato A: “O último ano foi muito importante para o meu crescimento, aprendi a importância da contagem de stocks, fiquei exímio de Excel e trabalhei em projetos ambiciosos”
Candidato B: “O último ano foi importante para mim, aprendi uma nova língua, trabalhei numa ONG, criei um projecto de crowdfunding para crianças na Colômbia terem acesso a livros e viajei 2 meses sozinho na América Central.

Numa conferência internacional da ONG em que trabalhava – tenta encontrar o “Wally”
Algo me diz que a história do Candidato B é mais aliciante aos olhos de um empregador. Não acreditas? A história do candidato B resume o meu Gap Year e a verdade é que na manhã seguinte do dia em que voltei a Lisboa, depois de um ano de pausa, tive uma entrevista em que dei uma “seca” sobre o meu último ano à pessoa que me estava a entrevistar. Dois dias depois, recebia uma chamada a dizer que o lugar era meu (enganaram-se, só pode).
Claro que isto não se aplica a todas as organizações no mercado de trabalho que estão a recrutar, mas também se estivesses à procura de um trabalho em que não te valorizam por experiências diferentes, não estarias a ler este artigo 😉
#10. Todos te vão desencorajar, mas tu vais provar que estão errados
Uma coisa é certa: nunca vai ser fácil de explicar e convencer quem tens de convencer que fazer um Gap Year é a decisão certa para ti neste momento. É um conceito recente em Portugal e apesar de cada vez mais pessoas estarem a aderir a ideia, ainda é difícil encontrar uma pessoa que tenha embarcado nesta experiência.
Isto implica que quando começares a explicar esta ideia que na tua cabeça é fantástica, para as pessoas mais chegadas a ti (especialmente aquelas mais conservadoras, aka a tua família), tudo não passa simplesmente de um devaneio mirabolante dessa tua mente que sempre gostou de sonhar. E pior é que quando começas o teu plano de Gap Year, (para ti) é natural que não tenhas tudo planeado e respostas como: “sei lá, até posso ir ajudar pinguins para Antárctida!” só te vão fazer perder a credibilidade.
No meu caso tive sorte em relação ao apoio dado pela minha família e não tenho grandes razões de queixa. Claro que precisei de ir explicando gradualmente que este ano seria muito importante para mim, mas para a minha família surgiam dois problemas: a possibilidade de me ser negada entrada no mercado trabalho (resolvida pela razão #9) e o facto de voltar sem vontade de estudar.
Este segundo “problema” até a mim me preocupava: “como vou querer voltar a passar horas a fio a estudar depois de passar um ano completamente livre e dependente de apenas mim próprio?”. Na verdade, nunca em nenhum um ano da minha vida dei tanto valor aos meus anos de estudante como durante o meu Gap Year, graças a várias circunstâncias que se passaram ao longo deste ano (acordar todos os dias às 5h da manhã para ir trabalhar em Bogotá é capaz de ter sido uma delas).
E no final? Voltei com uma mente refrescada, com uma nova ideia para o meu futuro académico (razão #4) e com um sorriso enorme na cara de felicidade e orgulho por ter provado a todos aqueles que duvidavam de que a minha “ideia mirabolante” foi uma decisão crucial para a minha vida. Afinal, nada como desafiar o status quo sobre novos desafios e ser bem sucedido 🙂

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